Jornal da Manhã. Marilia, Brasil, 5 de octubre de 2008
Por Ramón Franco
Entrevista publicada
Ele tem 41 anos de idade, completados no Dia de Reis, 6 de janeiro. Nascido em Guantánamo, na mesma região onde está instalada uma base militar dos Estados Unidos e que também serviu de inspiração para a clássica canção cubana ‘Guantanamera’, Amir Valle vive no exílio em Berlim, capital da Alemanha. Assim como outros escritores e poetas cubanos que tanto atualmente, quanto no passado, se viram obrigados a viver no desterro, Amir afirma categoricamente: «Não habito em Cuba. Cuba habita em mim», suas palavras têm a força de quem não se quietou (ou se acovardou) diante das injustiças institucionalizadas por uma «ditadura disfarçada de socialismo», como ele próprio afirma. Mesmo fora da ilha caribenha, Amir ama sua terra e sonha um dia pisar novamente em suas terras, já livre da censura e também da falta de perspectivas. Influenciado por Guimarães Rosa, o cubano, que conheceu pessoalmente Rubem Fonseca, ainda está inédito no Brasil.
Entre os livros de Amir estão os romances ‘Ciudad Jamás Perdida’, ‘Las Puertas de La Noche’ e ‘Las Palabras y Los Muertos’, este último dedicado ao romancista peruano Mário Vargas Llosa, que, aliás, fez grandes elogios ao trabalho do cubano. Vargas Llosa, exílio, literatura latino-americana e escritores brasileiros, sem esquecer da situação política da ilha cubana, pontuaram a entrevista exclusiva concedida ao Jornal da Manhã. Leia a seguir a entrevista completa.
Em sua página oficial na internet, www.amirvalle.com, você afirma o seguinte: «Sou um escritor cubano: essa é minha cruz». No mesmo texto, mais adiante, também declara: ‘Não vivo em Cuba: Cuba vive em mim’. São duas frases supremas. Fale um pouco sobre o exercício literário de um cubano de sua geração?
Acredito que a presença de Cuba na vida dos escritores cubanos de todas as gerações tem sido uma constante: José Martí, Alejo Capentier, Guillermo Cabrera Infante, por distintas circunstâncias, viveram no exílio durante muitos anos e nenhum deles perdeu a cubanidade, a essência de Cuba em suas almas, o que chamamos em espanhol de ‘cubanía’. Tenho orgulho de ser cubano, ainda que muitas coisas que ocorreram em meu país nos últimos 50 anos me causem vergonha. Nos últimos 50 anos se instaurou em Cuba uma ditadura disfarçada de socialismo. E esse orgulho cresce quando sei que pertenço a uma geração de escritores cubanos que, em sua maioria, reflete em suas obras uma visão crítica de nossa realidade, assumindo a responsabilidade que corresponde aos intelectuais, que é a responsabilidade de melhorar a nossa pátria. É óbvio que esta postura crítica resultou no exílio de um grande grupo de escritores. Só para se ter uma idéia, nos anos 80, em toda a ilha, éramos 50 jovens escritores que começamos a publicar críticas ao regime e hoje ficaram apenas seis em solo cubano: o restante se viu forçado a partir para o exílio.
Yoani Sánchez e sua Geração Y (www.desdecuba.com/generaciony) têm uma particularidade com a literatura de Mário Vargas Llosa: Yoani conheceu seu marido através do livro ‘A guerra do fim do mundo’, uma obra que aborda a Guerra de Canudos, ocorrida no Brasil no final do Século XIX. Você conhece a atividade de Yoani? E qual a influência de Vargas Llosa em sua vida literária?
Conheci Yoani e seu marido Reinaldo em Cuba, onde em muitas ocasiões estiveram em minha casa, no centro de Havana, justamente porque possuíamos amigos comuns, tanto em Cuba, quanto fora da ilha. Desde então os dois mantêm uma postura, que a mim, parece muito digna, especialmente porque são realmente independentes e falam o que pensam, sem que ninguém, em nenhum partido político, ordene o conteúdo de suas críticas. E veja, Yoani, seu marido Reinaldo e eu possuímos um ponto comum: amamos a literatura. E em Cuba, todos que conhecem literatura, sabem que Mário Vargas Llosa é um dos escritores mais próximos de Cuba e dos cubanos, inclusive desde os longínquos tempos quando não possuía o renome internacional que possui nos dias de hoje. Tenho muitos amigos escritores que foram ou são amigos de Vargas Llosa. E posso dizer que nas últimas quatro gerações de escritores cubanos a obra de Vargas Llosa tem sido essencial para o atual desenvolvimento das nossas letras. Por exemplo, sabe qual livro os novos escritores, que agora mesmo enquanto falamos estão surgindo em Cuba, recebem como elemento básico para sua formação? ‘Cartas a um jovem novelista’, de Vargas Llosa, graças aos cursos de âmbito nacional oferecido pela Oficina de Criação Literária Onelio Jorge Cardoso, dirigido por um dos nossos mais prestigiados narradores: Eduardo Heras Leon. Eu, pessoalmente, reconheço que me formei sob as influências de quatro mestres: o novelista cubano José Soler Puig, o norte-americano Erskine Caldwell, o mexicano Juan Rulfo e o peruano Mário Vargas Llosa.
Você vive na Europa (Amir Valle adotou a Alemanha como sua casa no exílio). Llosa também viveu. Isso influência sua literatura? E como as literaturas das Américas influenciam a vida cultural da Europa?
Viajar, viver em outros lugares diferentes aos que formaram a sua cultura é uma experiência necessária para todo escritor: abre as fronteiras do conhecimento, garante um mar de influências e um âmbito de sensações e experiências de vida que enriquecem o escritor, proporcionando uma visão mais ampla e menos provinciana. Isso tem ocorrido comigo na Europa. Eu viajava a Espanha todos os anos até que meu governo decidiu não deixar voltar para o meu país e mantém esta proibição até hoje. Não posso entrar em Cuba e essas viagens, como agora em meu desterro, proporcionam profundas mudanças em minha capacidade intelectual e também no meu modo de criar. Me sinto mais livre para criar meus mundos ficcionais. Essa influência é recíproca também: sei que desde o ‘boom’ latino-americano, aquele fenômeno que lançou a fama de Vargas Llosa, Garcia Márquez (Gabriel), Sábato (Ernesto), Octávio Paz e outros muitos escritores latino-americanos, a literatura na Europa não é mais a mesma. Conheço muitos escritores europeus e asiáticos, incluído de idiomas como o esloveno, turco, cingalês e o tamil que confessam influências profundas das letras latino-americanas do ‘boom’ e incluem autores da minha geração.
Fale um pouco sobre a literatura cubana. Qual é o panorama atual das letras na ilha de José Martí?
Apesar de ser uma ilhinha pequena, desde o Século XVII Cuba mantém uma literatura muito rica. Hoje nossas letras, junta às do México e da Argentina, são consideradas entre as mais poderosas e respeitadas de toda a língua espanhola e o número de autores cubanos que são considerados clássicos da língua é realmente assombroso. Em Cuba, repito, o único autor que mudou o meu modo de entender a literatura é José Soler Puig, a quem conheci, que é junto a Carpentier um dos grandes novelistas cubanos do Século XX. Do Brasil, admiro e tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em uma de suas viagens para Cuba, o contista e romancista Rubem Fonseca. Se tenho que reconhecer influências de algum escritor do idioma português, devo mencionar o brasileiro João Guimarães Rosa, de quem aprendi que a língua e sua musicalidade é um recurso literário mais importante do que muitos pensam.
Como estão as relações culturais entre os escritores brasileiros e os autores cubanos?
Lamento dizer que a relação é muito pouca. Eu conheço vários escritores brasileiros porque minha agência literária representa também vários dos mais importantes escritores brasileiros da atualidade, mas em meu país, exceto os clássicos do Brasil, muito pouco se conhece da literatura brasileira. É um fenômeno que ocorre entre o Brasil e a Espanha, entretanto todos os escritores de novela negra em língua espanhola reconhecem que o autor estrangeiro que mais influência o gênero atualmente que hoje se escreve em espanhol é Rubem Fonseca, um brasileiro.
Ernest Hemingway. Um grande cubano de coração. Está certo?
Há quem diga que Hemingway é o autor de fala inglesa que mais marcou as letras em língua espanhola, ao menos em se tratando das técnicas do conto. Pelo menos em minha geração foi assim, talvez porque viveu em Cuba e por ter recebido o prêmio Nobel basicamente por uma obra que escreveu em Cuba e que se passa em nosso país, ‘O velho e o mar’. Mas o certo é que Hemingway foi um mito para mim nos meus primeiros anos. Cresci como escritor copiando as técnicas de seus contos, seu imenso poder de síntese, a limpeza de sua prosa. E te confesso que quando pude lê-lo em inglês, meu fascínio foi maior. Hoje muitos preferem desconsiderá-lo, mas foi realmente um gênio das letras.
A música cubana é uma grande marca cultural da ilha. Os ritmos de Cuba são um grito de liberdade?
Desde o início dos tempos, a música é um grito de liberdade da alma, do espírito. E em Cuba, onde se misturam com nossas raízes indígenas centenas de ritmos vindos ao longo dos séculos desde a África, desde as muitas culturas que compõem a Espanha e desde outras culturas como a francesa, chinesa, judia e a árabe, a música segue sendo hoje uma expressão dessa liberdade que nada e nem ninguém pode suprimir: quando o povo cubano canta e dança esquece sua triste situação, e, além do mais, é um apelo para despertar a esperança e um exercício de resistência cívica.
Qual sua opinião sobre o presidente Raúl Castro?
Sobre Raúl Castro, um homem de quem poderiam sair as reformas que a sociedade cubana necessita, caiu inicialmente o peso de uma responsabilidade que, em minha opinião, ele não poderia cumprir. Afirmei isto naqueles primeiros meses de seu mandato e algumas pessoas me chamaram de pessimista, porém a realidade comprovou: hoje o povo cubano é mais pobre, está mais frágil economicamente e moralmente de quando estava seu irmão Fidel Castro, outro que a história ajustará as contas por ter levado os cubanos a um nível de indigência que jamais a ilha havia padecido.
Como sua literatura é absorvida no Brasil?
O Brasil é uma das nações mais fascinantes do Planeta Terra. Em um mesmo espaço convivem indivíduos que ainda permanecem na idade da pedra e outros amplamente modernos. Meu primeiro impacto ao visitar o Brasil foi que o avião esteve voando por várias horas sobre a selva amazônica: isto bastou para compreender a importância para se combater o desflorestamento. Também sofri um impacto ao ver as favelas de São Paulo, onde também pude constatar a desigualdade social e me perguntar como é possível que num mesmo país, imensamente rico, a riqueza está tão má distribuída. Apesar dos meus livros circularem por todo o mundo, com traduções ao inglês, francês, alemão e até mesmo idiomas exóticos como árabe, esloveno, lamentavelmente ainda não sou traduzido ao português e meus livros não circulam no Brasil.
Entrevista original
En su sitio en la Internet (www.amirvalle.com) usted habla o siguiente: «Soy un escritor cubano: esa es mi cruz». Más adelante, usted también declara: «No habito Cuba: Cuba me habita». En mi opinión son dos frases fuertes, yo diría con una fuerza suprema. Hablé un poco sobre el ejercicio literario de un cubano de su generación y sobre su exilio, hoy usted vive en Berlín, Alemania.
Creo que la presencia de Cuba en la vida de los escritores cubanos de todas las generaciones ha sido una constante: José Martí, Alejo Carpentier, Guillermo Cabrera Infante, por distintas circunstancias vivieron en el exilio durante largos años y ninguno de ellos perdió su cubanía. Vivo orgulloso de ser cubano aunque me avergüence de muchas cosas que han sucedido en mi país en los últimos 50 años desde que se instauró una dictadura disfrazada de socialismo. Y ese orgullo crece cuando sé que pertenezco a una generación de escritores cubanos que, mayormente, ha reflejado en sus obras una visión crítica de nuestra realidad, asumiendo la responsabilidad que como intelectuales nos corresponde en el mejoramiento de nuestra patria. Claro, esa postura crítica ha provocado que de aquellos muchachos que empezamos a publicar a mediados de los años 80, que éramos poco más de 50 jóvenes escritores en toda la isla, hoy queden sólo seis en Cuba: el resto se vio forzado a partir al exilio.
Yoani Sánchez y su Generación Y (www.desdecuba.com/generaciony) tiene una particularidad con la literatura de Mario Vargas Llosa: ella llegó a su marido por el libro La guerra del final del mundo, una obra que habla del conflicto en Canudos, en la Bahia, un estado del Brasil. ¿Usted conoce la actividad de Yoani? ¿Cuál es la influencia de Llosa en su vida literaria?
A Yoani y a su esposo Reinaldo los conocí en Cuba desde que en un par de ocasiones fueron a visitarme a mi casa en Centro Habana porque teníamos amigos comunes en Cuba y fuera de la isla. Desde entonces ellos dos han mantenido una postura que a mí me parece muy digna, especialmente porque son realmente independientes y dicen lo que piensan sin que nadie, en ningún bando político, esté ordenándoles decir lo que dicen.
Y mira, Yoani, su esposo Reinaldo y yo tenemos un punto común: amamos la literatura. Y en Cuba, todo el que conoce de literatura, sabe que Mario Vargas Llosa es uno de los escritores que más cerca ha estado de Cuba y de los cubanos incluso desde aquellos lejanos momentos en que no tenía el renombre que hoy tiene. Tengo amigos escritores que fueron o son amigos de Vargas Llosa. Y te puedo decir que en las últimas cuatro generaciones de escritores cubanos la obra de Vargas Llosa ha sido esencial para el actual desarrollo de nuestras letras. Por ponerte sólo un ejemplo, los nuevos escritores, que ahora mismo mientras hablamos están surgiendo en Cuba reciben como elemento básico para su formación el libro «Cartas a un joven novelista» de Vargas Llosa, gracias a los cursos de carácter nacional que ofrece el Centro Nacional de Creación Literaria Onelio Jorge Cardoso, que dirige uno de nuestros más prestigiosos narradores: Eduardo Heras León. Yo, personalmente, reconozco que me formé bajo las influencias de cuatro maestros: el novelista cubano José Soler Puig, el norteamericano Erskine Caldwell, el mexicano Juan Rulfo y el peruano Mario Vargas Llosa.
Usted vive en Europa. Vargas Llosa también vivió allá. ¿Eso influencia su literatura? ¿Cómo la literatura de las Américas (Central, de Cuba, Sur, de Brasil, Perú y Argentina, entre otros) influencia la vida cultural de Europa?
Viajar, vivir en otros lugares distintos a los que formaron tu cultura, es una experiencia necesaria para todo escritor: te abre unas fronteras de conocimiento, un mar de influencias, un ámbito de sensaciones y experiencias de vida que enriquecen al escritor, le dan una mirada más amplia, menos provinciana. Eso me ha sucedido en Europa. Yo viajaba a España todos los años hasta que mi gobierno decidió no dejarme regresar a mi país y me impidió hasta hoy la entrada a Cuba, y esos viajes, como ahora mi destierro, han provocado profundos cambios en el intelectual y en el creador que soy. Me siento más libre a la hora de crear mis mundos novelados. Y esa influencia es recíproca: sé que desde el boom latinoamericano, aquel fenómeno que lanzó a la fama a Vargas Llosa, García Márquez, Sábato, Cortázar, Octavio Paz, y otros muchos escritores latinoamericanos, la literatura en Europa no es la misma. Conozco a cientos de escritores europeos y asiáticos, incluso de lenguas como el esloveno, el turco, el cingalés y el tamil que confiesan influencias muy profundas de las letras latinoamericanas del boom e incluso de autores de mi generación.
Hable sobre la literatura cubana. ¿Cómo está la actual literatura de la isla de José Martí? ¿Cuáles autores cubanos influenciaron su obra? ¿Tiene algún escritor brasileño que usted admira?
A pesar de ser una islita pequeña, desde finales del siglo XVII Cuba ha tenido una literatura muy rica. Hoy nuestras letras, junto a las de México y Argentina, son consideradas entre las más poderosas y respetadas de toda la lengua española y el número de autores cubanos que son considerados clásicos de la lengua es realmente asombroso. En Cuba, repito, el único autor que cambió mi modo de entender la literatura es José Soler Puig, a quien conocí, que es junto a Carpentier uno de los grandes novelistas cubanos del siglo XX. De Brasil admiro, y conocí personalmente en uno de sus viajes a Cuba, a Rubem Fonseca. Y si tengo que reconocer influencias de algún escritor portugués debo mencionar a Joao Guimaraes Rosa, de quien aprendí que la lengua y su musicalidad es un recurso literario más importante de lo que muchos piensan.
¿Y como están las relaciones culturales entre los escritores brasileños y los autores cubanos? ¿Hay una integración o no?
Lamento decirte que la relación es muy poca. Yo conozco a muchos escritores brasileños porque mi agencia literaria representa también a una veintena de los más importantes escritores brasileños de hoy, pero en mi país, excepto de los clásicos de Brasil, muy poco se conoce. Es un fenómeno que también sucede entre Brasil y España, pero tiene que ver más con asuntos de la promoción editorial y cultural, pues todos los escritores de novela negra en lengua española reconocemos que, por ejemplo, el autor extranjero que más ha influido en el género que hoy se escribe en español es Rubem Fonseca, un brasileño.
Ernest Hemingway. Un gran cubano de corazón. ¿Correcto?
Hay quien dice que Hemingway es el autor de habla inglesa que más ha marcado las letras en lengua española, al menos en lo que a las técnicas del cuento se refiere. Al menos en mi generación fue así, quizás porque vivió en Cuba, porque el premio Nobel se lo dieron básicamente por una obra que escribió en Cuba y que transcurre en nuestro país (El viejo y el mar). Pero lo cierto es que Hemingway fue un mito para mí en mis primeros años. Crecí como escritor copiando las técnicas de sus cuentos, su inmenso poder de síntesis, la limpieza de su prosa. Y te confieso que cuando pude leerlo en inglés, mi asombro fue mayor. Hoy muchos pretenden desconocerlo, pero fue realmente un genio de las letras.
La musicalidad cubana es una gran marca cultural de la isla. ¿Los ritmos musicales cubanos son un grito de libertad?
La música, desde el inicio de los tiempos, es un grito de libertad del alma, del espíritu. Y en Cuba, donde se mezclan con nuestras raíces indígenas cientos de ritmos venidos a lo largo de siglos desde el África, desde las muchas culturas que forman España, y desde otras culturas como la francesa, la china, la judía y la árabe, la música sigue siendo hoy una expresión de esa libertad que nada ni nadie puede coartar: cuando el pueblo cubano canta y baila no piensa mucho en su triste situación; es, además, una apelación al despertar de la esperanza y un ejercicio de resistencia cívica.
¿Cuál es su opinión sobre el actual ‘presidente-en-jefe’ de Cuba, Raúl Castro? Y ¿qué piensa sobre Fidel Castro?
Sobre Raúl Castro, un hombre de quien se creía podían salir las reformas que necesitaba la sociedad cubana, cayó inicialmente el peso de una responsabilidad que, en mi opinión, él no podría cumplir. Lo dije en aquellos primeros meses de su ascenso al poder y algunos me llamaron pesimista, pero la realidad lo ha ido demostrando: hoy el pueblo cubano es más pobre, está más depauperado económica y moralmente que cuando estaba su hermano Fidel, otro a quien la historia ajustará cuentas por haber llevado a los cubanos a un nivel de indigencia que jamás la isla había padecido. Las medidas tomadas por Raúl Castro son una burla contra la inteligencia humana y su postura es todavía más asqueante: ha elegido para acompañar su mandato a políticos que el pueblo detesta por la incomprensión que siempre han tenido de los verdaderos problemas del pueblo cubano; en medio de la tragedia, hace unos días, ha tenido el descaro de decir que los problemas en la isla no se resuelven porque los cubanos no quieren trabajar, en vez de reconocer que ellos, durante cinco décadas, han limitado toda la iniciativa histórica personal del pueblo cubano; y en su único discurso hasta hoy tuvo el cinismo de decir que los cubanos no podían acostumbrarse a recibir únicamente buenas noticias. ¿Cuáles han sido esas «buenas noticias» en estos cerca de 50 años?
¿Cuál son sus impresiones respecto a las dos ciudades brasileñas que visitó: São Paulo y Rio de Janeiro? ¿Cómo su literatura es absorbida en el Brasil?
Brasil es una de las naciones más fascinantes del Planeta Tierra. En un mismo espacio confluyen individuos que viven aún en la edad de piedra y una modernidad aplastante. Mi primer impacto al venir a Brasil fue que el avión estuviera volando varias horas sobre la selva amazónica: eso bastó para comprender por qué se le conoce como «el pulmón del Planeta» y para entender la importancia de que no continúe la deforestación que hoy se viven en muchos sitios del Amazonas. Luego estuvo mi impacto al ver las favelas de Sao Paulo: yo fui invitado por una familia muy rica y pude comprobar los dos extremos de la balanza, lo suficiente como para preguntarme cómo es posible que en un mismo país, enormemente rico, la riqueza esté tan mal distribuida.
A pesar de que mis libros circulan ya por todo el mundo, con traducciones al inglés, al francés, al alemán y hasta idiomas «tan exóticos» como el árabe y el esloveno, lamentablemente no estoy traducido al portugués y mis libros no circulan acá. Espero que pronto lleguen, pues los contratos que he firmado en estos últimos dos años han sido con editoriales que también distribuyen acá, en Brasil.
Hable un poco sobre el futuro de Cuba en su visión y su esperanza.
Empecemos por el ayer: El dictador Fulgencio Batista convirtió a Cuba en un traspatio de los Estados Unidos y de la mafia italo-norteamericana, donde los burdeles y el narcotráfico abundaban, como también abundaban los asesinatos políticos de los jóvenes que se oponían a esa situación. Fidel Castro encabezó una Revolución que fue una luz para los pueblos de América por todas las cosas que podían lograrse si se llevaba honestamente adelante esa Revolución. Pero Fidel Castro y su gente traicionaron aquella Revolución y establecieron una dictadura todavía más cerrada que la de Batista. El saldo está a la vista: Cuba, en 1959, con todos los problemas que tenía, era una de las naciones más prósperas de América en las esferas económica, social, cultural y educacional; hoy es una de las naciones más pobres de América por delante sólo de Haití y Bolivia.
El futuro dependerá sólo de los cubanos. No creo que los actuales gobernantes logren ningún cambio a favor del pueblo pues siguen priorizando su ideología política sacrificando las pocas cosas que nos quedan. Espero que ese futuro lo decidamos todos los cubanos, los de la isla y los del exilio, sean de la tendencia política que sean, pero aprendiendo a dialogar con un único interés: el desarrollo de nuestro país y de nuestra gente. Y al menos yo no quiero interferencias de otras naciones e intereses en ese futuro, ni de Estados Unidos, ni de la Unión Europea. Debe ser un proceso de diálogo y coexistencia entre hermanos, entre cubanos.